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Quando competir se torna um objetivo de vida, viver em harmonia não é um ideal.

Em 06/02/2012 


Quando observamos alguém que não conhecemos, logo também por força do nosso condicionamento, que chamamos de hábito, procuramos de alguma forma enquadrá-lo numa classe social, criando para ele um perfil, e o fazemos num primeiro momento, a partir dos estereótipos que nos ajudam a classificá-lo. Num primeiro olhar, verificamos sua etnia, depois o modo como se veste, depois seus gestos ou hábitos sociais, e se tivermos oportunidade, seu nível de conhecimento, e assim por diante. 

 

O passeio público se torna antes de tudo, uma espécie de passarela onde todos podem se exibir, mostrar aquilo que aparentemente têm de melhor, e assim, o simples ato de caminharmos em lugares freqüentados por muitos, desperta em cada um o desejo de ser importante, de ser notado, de ser diferente a ponto de se destacar dos demais. E uma coisa aparentemente simples como ir às compras, por exemplo, se torna uma competição, pois estaremos disputando, de algum modo, uns com os outros, à preferência da atenção da maioria.

 

É certo que não podemos prescindir das relações em nosso viver, mas logo transformaremos este fato, que como todo fato é algo natural, num enorme problema. Mas será que nos damos conta, de que quase tudo em nossas vidas, em nossas relações, gira em torno de um modelo competitivo, uma eterna condição onde a disputa por alguma coisa é tudo que somos capazes de objetivar? Devemos estar tão envolvidos com a coisa, que sequer entendemos que haja algum problema nesse modo de viver. 

 

Talvez seja algo natural já que ninguém se opõe, já que todos aceitam, já que nossos pais e as escolas ensinam; já que as chamadas instituições oficiais até estimulam essa prática, uma vez que isso quer significar determinação da parte do indivíduo, uma vez que vêem a ambição como algo saudável, e além de digno de ser praticado, algo que deva ser constantemente aperfeiçoado. 

 

Objetivos bem definidos e qualidades pessoais que nos faculte a superaração de todos os nossos obstáculos, obrigatoriamente, será a principal diretriz que iremos adotar em vida, ao menos nas sociedades. Quais são nossos obstáculos, senão os mesmos que antes de nascermos já existiam nas mãos de outros? Se temos objetivos e planos para a nossa vida, certamente que não serão ideias pioneiras. O significado da vida decerto é aquele que damos a ela, pois a natureza da criação, que para todos nós é um verdadeiro e insolúvel mistério, nunca predestinou coisa alguma para quem quer que fosse. 

 

Por não sabermos a destinação de nossas vidas, deixamos que outros a definam para nós. Assim a autoridade de todas as tradições, que acaba por criar as regras das sociedades, nos diz o que devemos fazer, o que devemos desejar, como devemos nos comportar, o que devemos cultuar, qual a finalidade do nosso inteiro viver. É um modelo onde cada espaço deve ser conquistado e aquilo que já possuímos deve a todo custo ser mantido. É a verdade de que devemos possuir, de que felicidade se consegue através das conquistas, do ter sempre mais, da sensação de que somos importantes. 

 

Como podemos desejar a igualdade entre os povos, se nós próprios cultuamos o nacionalismo, o sucesso individual? Como podemos defender a igualdade étnica, se nos segmentamos através do cultivo sempre crescente das tradições de cada cultura, o separatismo das raças, uma vez que não abrimos mão de nossas conquistas? Não estamos criando antagonismos e comparações ao defendermos como uma propriedade nossa, coisas da nossa tradição, da nossa raça, dos costumes e os hábitos próprios de cada povo? 

 

Não é de estranhar quando verdadeiras batalhas entre os líderes e filósofos sociais, são travadas para outorgar a propriedade de alguma tradição milenar, a uma ou outra etnia. Fazemos questão de enfatizar a que raça pertencemos, que tradições e cultos escolhemos como modelos para controlar nossas vidas. Vestimos roupas que identificam nossas origens e lutamos por defender nossos costumes, nossa culinária, nossos rituais, e com isso estamos em luta silenciosa contra todos que não façam parte do nosso grupo, que não adotem nosso modelo comportamental. 

 

E o mundo se torna uma grande arena, onde a competição se torna a regra. Lutamos para impor nossas tradições, nossas preferências e opiniões, nossa religião e nacionalidade, nosso saber e estilo de vida. Estamos em disputa contra todos, mesmo com aqueles que moram em nossa casa. Competimos contra nossos irmãos, nossos pais, nossos amigos, com quem quer que seja. Parece que nossa racionalidade se limita a uma designação genérica da espécie, pois nunca agimos de modo racional, sensato, nunca buscamos a conciliação entre nossas relações e sim, cada vez mais antagonismo é tudo que conhecemos. 

 

Filosoficamente é muito fácil dissertar sobre a miséria e desencontros da humanidade, mas em casa somos contraditórios e na maioria das vezes, gentilmente falando, somos insensatos. Criamos filhos dentro de um ambiente competitivo, onde marido e mulher disputam cada qual, ao seu modo, seu próprio e indivisível espaço, onde irmãos disputam a preferência dos pais, dos professores, o destaque diante daqueles que residem na mesma casa.

 

Que mãe ou pai, salvo exceções, não se envaidece de seus filhos? Mas não farão todas as mães e pais e mesma coisa? Que filhos, excetuando-se os desvios naturais de comportamento, não se envaidecem dos seus pais? O fato é que, quando nossos filhos se tornam referência de comportamento, de aplicação nos estudos, de virtude, estamos automaticamente competindo com todas as outras famílias, e a recíproca é absolutamente verdadeira. Estamos assim, acentuando ainda mais as divisões que já são incontáveis, nas relações humanas. 

 

Desde o berço, parece que a coisa mais importante na vida dos pais, se torna promover a superioridades dos filhos. Na ilusão de que os filhos representam uma continuidade da sua linhagem, uma espécie de perpetuação de si mesmo, mãe e principalmente o pai, se empenham em colocar os filhos em disputa direta com todos os outros, o objetivo é simples, impor a importância da família no meio social. Seja através da realização pessoal, seja através da obra dos filhos, tudo dá no mesmo, pois o que conta é a promoção da superioridade daquela estirpe.

 

Se atualmente tendemos a criticar o crescente nível de indiferença que existe entre as pessoas, da falta de respeito em relação ao espaço de cada um, esquecemos que somos parte responsável por tal situação. Quase nunca nos interessa a igualdade entre indivíduos, uma vez que sempre desejamos nos destacar dentre a massa popular. Fazemos o mesmo com relação aos nossos filhos, quando os separamos em classes sociais, pelos objetivos profissionais, pelas ideologias que delegamos para eles. Há um sentimento generalizado de competição em tudo que fazemos. 

 

Em nosso trabalho sempre queremos ser os melhores, em nossas relações também, e de forma bizarra, até nas desgraças pessoais. Ensinamos aos nossos filhos que devem lutar pelos seus objetivos, mas serão deles tais objetivos? Instigamos a competição, mas nunca contemplamos o respeito como forma de convívio. Ao obrigarmos que sigam profissões que nos agradam, nunca levamos em conta sua satisfação no que realizam. Evidentemente que os jovens precisam de orientação, mas orientar nada tem a ver com imposição de coisa alguma. Impor é tirar a liberdade, e sem liberdade, não há a menor possibilidade de respeito entre indivíduos. 

 

Ao assumir a postura da individualidade, todos estarão criando em torno de si mesmos, um núcleo, que é a própria personalidade, que se encarregará de separá-lo de todos os outros da sua espécie. Poderão conviver uns com os outros, mas cada qual com a necessidade de expressar suas próprias ideias à respeito do mundo onde vivem, cada qual com ideais peculiares de um futuro, de objetivos particulares. Nasce assim o ser humano individual, antagônico pelo próprio estado da sua individualidade, nas suas relações com todos os outros da sua espécie. 

 

Ele poderá até imitar outros em todos os aspectos, mas no final terá sua forma peculiar de expressar essa imitação, o que caracteriza uma vez mais seu individualismo, ou modelo comportamental ou personalidade. Isto é, embora imite, nunca será igual ao modelo original, uma vez que irá incorporar à imitação, suas particularidades, seus hábitos e manias, seus ideais. 

 

Ao se constituir o núcleo familiar, nossa família como grupo social tende a se isolar das outras famílias. Compreender porque fazemos questão de nos isolarmos uns dos outros, tanto em ideologias, quanto em preferências e opiniões, em hábitos da tradição, é entender a maioria das causas dos conflitos humanos. Não podemos criar um mundo de igualdades, quando plantamos em nossos filhos a ideia de que tudo que existe nesse mundo, precisa ser conquistado à força, isto é, tomado de alguém, disputado com quem quer que seja. Ao fazermos isso, estamos criando "uma verdade", de que todos que não apóiem nossas ideias, são nossos inimigos. Estamos promovendo a "verdade" de que a razão está do nosso lado, estamos instituindo à falta de respeito como um caminho necessário para se chegar ao sucesso, que no fim das contas, por maior que seja, será sempre temporário. 

 

 Fonte: sitededicas

 

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